Só estava ele, batendo cem mil vezes todos os dias. Procurava encontrar algo para cobrir o vazio. Porém, todas as vezes que aquele buraco era coberto, alguma ferida era formada. E só ele voltava a ficar.
Um dia, coberto de feridas mal cicatrizadas, percebeu que a solidão não incomodava mais. Charles Darwin estava correto: sobrevive aquele que mais bem adaptado ao meio está. Decidiu transformar-se.
Construiu um casulo. Lá sofreu a histólise, seus tecidos foram se destruindo de dentro pra fora. E assim, como acontece com as lagartas ao virarem borboletas, nem tudo foi destruído, algo iria permanecer mas só seria descoberto com o tempo.
Após esse lento processo bombeou com uma força mais forte que o normal, e o casulo se partiu. De ferro ele havia se tornado, sem espaço para feridas e solidão.
(Livia Belardi)
Nenhum comentário:
Postar um comentário